DISCURSO DE SAUDAÇÃO DO PRESIDENTE PROF. DOUTOR JOSÉ MÁRCIO SOARES LEITE, AO DR. JOSÉ APARECIDO VALADÃO A SEREMPOSSADO NA CADEIRA Nº 44, PATRONEADA POR OLAVOALEXANDRINO CORREA LIMA, NA AMM.
- Academia maranhense medicina
- 20 de fev.
- 4 min de leitura
Saudação aos presentes...
A cirurgia, é o ramo da medicina que se propõe curar pelas mãos. Cirurgia
é ciência e arte. Como ciência, tem renovação dinâmica e constante de
preceitos e conceitos em função da sua própria evolução. Como arte exige
um aprendizado manual paciente e bem conduzido. Será aprendida mais
facilmente por aqueles que nascem com vocação e aptidão
específicas,como acontece com todas as artes.
Na evolução histórica da cirurgia, o papiro cirúrgico de Edwin Smith,
escrito por volta de 1700 a.C., é um dos mais importantes documentos da
medicina antiga do Egito. Na Grécia, no século V a.C., Hipócrates, o pai da
Medicina, em seu Corpus Hipocratticum, nos diz que... "o que as drogas
não curam, a faca curará". Na Índia, no século IV a.C., houve um
desenvolvimento grande da cirurgia plástica, principalmente das
rinoplastias. Em 150 a.C., foi proibido que cirurgiões, operassem pacientes
para retirada de cálculos. Na idade média, período compreendido entre os
séculos V a XV d.C. , o cirurgião bizantino Paulus Aegineta, escreveu um
breviário de cirurgia, sobre traqueotomia, tonsilectomias, flebotomias e
redução do tamanho das mamas. No século IX apareceram as primeiras
escolas de medicina. A primeira foi a Scuola Médica Salenirtana, em
Salerno-Itália, pioneira no estudo de anatomia e cirurgia. Rogerius
Frugardi, professor dessa Escola, publicou em 1.180 d.C. , o livro “Practica
Chirurgiae”, que serviu de base para os manuais de cirurgia ocidentais,
influenciando-os até os tempos modernos. Em 1222 é criada a
Universidade de Pádua, que contou com destacados professores de
anatomia e cirurgia, como Giambattista Morgagni, Andreas Vesalius e
Gabriel Faloppio, dentre outros. No fim do século XIII e início do século
XIV, as escolas francesas aumentam seu prestígio e dois cirurgiões se
distinguem: Henri de Mondeville e Guy de Chauliac (1260-1368), que
preconizaram que as feridas limpas cicatrizam melhor. Os corpos estranhos
deveriam ser removidos e o sangramento parado. A Obra de Chauliac,
Chirurgia magna, foi terminada em 1363 em Avignon-França. Em sete
volumes, o tratado abrange Anatomia, Sangria, Cauterização,
Medicamentos, Anestésicos, Feridas, Fraturas e Úlceras. Do século XV
em diante, no período renacentista, ressurge uma nova cirurgia na Europa,
em virtude do desenvolvimento da anatomia e da fisiologia, porém apenas
no século XVI os cirurgiões atingiram sua autonomia com Ambroise Paré
(1510-1590), considerado o fundador da ortopedia, que modificou o
tratamento das feridas que, até então, eram cauterizadas e queimadas com
óleo. Quando o rei Carlos IX ficou doente, disse a Paré: “Espero que vás
tratar melhor o rei do que os pobres do hospital.” Ambroise Paré
respondeu: “Não, isto é impossível.” “E por que?” Perguntou-lhe o rei.
Respondeu: “Porque eu os trato como reis.” Em 1715, Luís XV decreta
que o ensino da cirurgia seja incluído nas Escolas de Medicina da França.
No Brasil, no início do século XVIII encontramos poucos relatos sobre o
ensino da cirurgia e da própria técnica cirúrgica. O século XIX
caracterizou-se pelo desenvolvimento do conhecimento que auxiliaram o
crescimento da cirurgia. Cabe citar o controle da hemorragia,
principalmente com novos recursos técnicos, o conhecimento do controle
de infecção, a assepsia e a anti-sepsia e o controle da anestesia, que
ofereceu uma possibilidade imensa para o maior alcance das intervenções
cirúrgicas. No início do século XX existia o cirurgião que de forma
abrangente, realizava os chamados procedimentos operatórios. O
desenvolvimento científico e a necessidade do emprego de técnicas
especiais proporcionaram o surgimento dos especialistas. No final dos anos
50 já tínhamos outras especialidades com alcances precisos e definidos,
como a cirurgia torácica, a neurocirurgia, a cirurgia plástica e a cirurgia
cardíaca. Da segunda metade do século XX às primeiras duas décadas do
século XXI inúmeros progressos tecnológicos proporcionaram o emprego
de novos avanços, como a cirurgia dos transplantes de órgãos, a
microcirurgia, o emprego de próteses e endopróteses, a cirurgia
videoendoscópica e as técnicas de imagem congregando a radiologia
invasiva e esperamos um crescimento nas áreas já citadas e principalmente
um trabalho importante na cirurgia que utiliza as células-tronco, inclusive.
A partir de hoje, no entanto Dr. José Aparecido Valadão, com seu ingresso
nesta Casa, o Confrade passará a conviver com os dois mundos do Estado
da Arte da Cirurgia: O mundo da ciência médica e da técnica cirúrgica e o
mundo da literatura geral e médica, o mundo da história da medicina e,
essa tem sido a missão da Academia Maranhense de Medicina em seus 29
anos de existência. Lutar pela manutenção dos postulados éticos e médicos
da medicina e pela preservação de sua história, reconhecendo os modernos
avanços técnico-científicos, mas valorizando o passado sobre os quais esses
avanços foram erguidos, salientando sempre a importância da humanização
do ato médico.
Antes de encerrar estas minhas palavras, desejo homenagear o Confrade
José Aparecido Valadão e os cirurgiões desta Casa, com esta citação
cirurgião francês Guy de Chauliac, para quem o cirurgião tem que possuir
os três “H” exigidos para o perfeito exercício da arte e técnica cirúrgicas:
Head (cabeça), ou seja, conhecimento e sentimento; Hearth (coração), por
sua sensibilidade e amor à arte cirúrgica; Hand (mão), por sua habilidade
manual e sincronismo de movimentos. Os Confrade ora empossado com
certeza as possui.
Seja bem-vindo Dr. José Aparecido Valadão a nossa Academia.
Muito Obrigado!
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