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DISCURSO DE SAUDAÇÃO DO PRESIDENTE DA ACADEMIA MARANHENSE DE MEDICINA AO DR. DOMINGOS DA SILVACOSTA, EMPOSSADO NA CADEIRA Nº 18, PATRONEADA PORHAMLETO BATISTA BARBOSA DE GODOIS, NA AMM.

Cirurgia: ramo da medicina que se propõe curar pelas mãos.

Cirurgia é ciência e arte. Como ciência, tem renovação dinâmica e

constante de preceitos e conceitos em função da sua própria

evolução. Como arte exige um aprendizado manual paciente e bem

conduzido. Será aprendida mais facilmente por aqueles que

nascem com vocação e aptidão específicas,como acontece com

todas as artes.

Em épocas passadas a cirurgia era considerada o último recurso

aplicável a doentes para os quais não havia mais remédios que lhe

restabelecessem a normalidade. Com a evolução dos

conhecimentos, a cirurgia passou a ter lugar no tratamento de

algumas doenças. Hoje exige dos cirurgiões o conhecimento de

anatomia e fisiologia, bioquímica, imunologia, bacteriologia,

metabolismo e, obviamente, de técnica cirúrgica.

Em 2500 a.C. foram relatadas operações em tumbas de faraós em

Saqquarah. Os papiros de Ebers e Edwin Smith, do século XVI

A.C., trouxeram informações e foram os primeiros textos sobre

cirurgia. O papiro cirúrgico de Edwin Smith é um dos mais

importantes documentos da medicina antiga do Vale do Nilo. Foi

escrito por volta de 1700 a.C., mas a maioria de suas informações é

baseada em textos escritos na época de Imhotep (2640 a.C.). O

papiro se refere, principalmente, às feridas e a como tratá-las.

Na Índia, no século IV a.C., houve um desenvolvimento grande da

cirurgia plástica,

principalmente das rinoplastias. Os prisioneiros de guerra e os

adúlteros eram punidos com a amputação do nariz, cuja

reconstrução era feita à custa de retalhos da testa. Susruta foi o

grandecirurgião indiano da época.


Entre 460 e 377 a.C. foi formulado o Juramento de Hipócrates. Sob

essa influência, em 150 a.C., foi proibido que médicos e cirurgiões

respeitáveis, educados, usassem bisturis e cortassem pacientes

para retirada de cálculos. Tais tarefas, consideradas selvagens,

ficavam para artesãos menos educados (mais tarde a Igreja se

posicionou fortemente contra as dissecções e operações e somente

no século XIII é que os médicos e os cirurgiões começaram a ser

igualmente respeitados).

A cirurgia praticamente não existia na China Antiga por causa da

orientação totalmente

diferente da medicina chinesa, somada à completa ignorância da

anatomia. Hua T’o, o mais famoso médico chinês da época, no ano

de 190 (século II) já fazia anestesia para operações no abdome

usando Cannabis sativa fervida com vinho. Parece ter removido um

baço com esse método. O seu avanço cirúrgico parou nessa

ocasião porque Confúcio proibiu as mutilações do corpo humano.

O cirurgião bizantino Paulo de Egina (PaulusAegineta), escreveu

um breviário de cirurgia onde compilou o que já havia sido dito

pelos gregos. Discutiu, com sua experiência pessoal: traqueotomia,

tonsilectomias, flebotomias e redução do tamanho das mamas.

Abw’lQasimalZahrawi, Albucasis (930-1013), cirurgião islâmico

nascido em Córdoba, escreveu o primeiro livro ilustrado de cirurgia,

introduzindo o uso do ferro em brasa para cauterização de

feridas.Teve grande influência sobre os cirurgiões da idade média,

que usaram abusivamente essa técnica (cauterização de feridas).

Os escritos e manuscritos da época mostram claramente a mistura

vigente de misticismo e crueldade. Na Idade Média, o homem era

totalmente religioso e via em tudo o que lhe acontecia um gesto

direto de Deus. A igreja, cuja autoridade era incontestada, impediu

todo o espírito de pesquisa como, por exemplo, a interdição das

dissecções que, aliás, foi mantida até 1480. A cirurgia foi

considerada uma prática bárbara, também condenada pela igreja.

No século XIII apareceram as primeiras escolas de medicina. A

primeira foi a de Salerno que fornecia ensino verdadeiro e diploma.

RogeriusFrugardi (Roger de Salerno) teve sua obra “Cirurgia”

editada por Roland de Parma.

A Escola de Salerno professava o dogma da supuração louvável:

qualquer ferida deveria produzir supuração. A Escola de Bolonha


(1158), segunda a aparecer, defendia a doutrina inversa: É oseco,

mais que o úmido, que mais se aproxima do estado são.

Em 1222 é criada a Universidade de Pádua, que contou com

destacados professores de

anatomia e cirurgia, como Fabricius d'Acquapendente,

GiambattistaMorgagni, Andreas Vesalius e Gabriel Faloppio, dentre

outros.

No século XIII, dois cirurgiões italianos tiveram atuação marcante:

GuglielmoSalicetti (1201- 1277) e seu aluno Guido Lanfranchi que,

em seu livro Chirurgia Magna (1296), já fala de sutura de nervos

cortados e recomenda a sutura intestinal, tendo se associado ao

primeiro colégio de cirurgia, o Colégio de São Cosme.

No fim do século XIII e início do século XIV, as escolas francesas

aumentam seu prestígio e dois cirurgiões se distinguem: Henri de

Mondeville e Guy de Chauliac.

Mondeville (1260-1320) que preconizaram que as feridas limpas

cicatrizam melhor. Nas feridas não se deveriam usar ungüentos e

bálsamos. Os corpos estranhos deveriam ser removidos e o

sangramento parado. Recomendava curativos com compressas

embebidas em vinho quente. Guy de Chauliac (1300-1370),

professor na Universidade de Montpellier, publicou o livro Chirurgia

Magna (1363), em que dizia: “Todos os artesãos devem conhecer o

assunto em que trabalham; de outro modo, eles errariam nas suas

obras. Segue-se que os cirurgiões devem conhecer a

anatomia.”

Em 1376, Chauliac foi autorizado a dissecar um cadáver por ano.

Foi um dos primeiros a receber esta autorização, precedido por

Mondino de Luzzi de Bolonha. Recomendava a castração nas

operações de hérnia inguinal, já que usava a cauterização e poucos

testículos permaneciam viáveis.

Retirava-os preventivamente.

A Itália lidera a pesquisa anatômica durante pelo menos dois

séculos, inicialmente com a Escola de Salerno (criada por Frederico

II da Sicília). Era obrigatório o estudo de três anos de lógica, cinco

anos de medicina e cirurgia e um ano de prática sob a orientação

de um médico instruído.

O médico assim formado devia pertencer à igreja e falar latim. Seu

ensino tinha sido dogmático, ele se preocupava mais com a


discussão teórica e citações de textos antigos. Qualquer ação

manual era considerada desonrosa e significava perda da

autoridade. Como homem da igreja não poderia derramar sangue.

Recusava-se a qualquer ato cirúrgico, deixando-o para os inferiores:

os barbeiros cirurgiões, que eram simples operários, iletrados e

leigos.

O médico usava a toga longa e o barbeiro cirurgião a toga curta. Os

médicos exigiam a submissão dos então chamados cirurgiões-

barbeiros.

Apenas no século XVI os cirurgiões atingiram sua autonomia com

AmbroiseParé, que foi o primeiro médico que dedicou todo o seu

tempo à cirurgia. Ambroise Paré (1510-1590), considerado o

fundador da ortopedia, modificou o tratamento das feridas que, até

então, eram cauterizadas e queimadas com óleo. Em 1536 foi

reconhecido como apto a curar cravos, bossas, antrazes e

carbúnculos, chegando à posição de cirurgião de quatro reis da

França. Mostrou que tratar as feridas com gema de ovo, mel e

terebintina dava melhores resultados que a cauterização. Quando o

rei Carlos IX ficou doente, disse a Paré:

“Espero que vás tratar melhor o rei do que os pobres do hospital.”

AmbroiseParé respondeu:

“Não, isto é impossível.”

“E por que?” Perguntou-lhe o rei.

Respondeu:

“Porque eu os trato como a reis.”

Em 1540, os barbeiros e os cirurgiões de Londres se unem na

Companhia dos Barbeiros Cirurgiões, que se transformaria no Royal

CollegeofSurgeonsem 1800.

Do século XV em diante os europeus falam de uma nova era e

adquirem uma visão mais avançada de vários aspectos da vida. Há

o nascimento de uma nova cirurgia em virtude do desenvolvimento

da anatomia e da fisiologia. Devem ser citados: Leonardo da Vinci

(1452-1519),__Andreas Vesalius (1514 1564),__Gabriel Falloppio

(1523-1562), BartolomeoEustachio (1524-1574),__Fabricius

d’Acquapendente (1537-1615), William Harvey (1578-1657),

SantoriusSantorius (1561-1636).

Luís XIV, em 1686, sofria de fístulas anais e se tratava sem

resultados com ungüentos,

laxativos, banhos, etc. Foi operado com êxito por Charles François

Félix. Em 1715, por influência de Félix, Luís XV (neto de Luís XIV)

decreta que o ensino da cirurgia seja incluído nas escolas de


medicina da França. Em 1731 é fundada a Academia Real de

Cirurgia.

A medicina é uma classe cuja formação tem por escopo salvar vidas,

consoante está bem expresso neste axioma da medicina hipocrática...

“Curar algumas vezes, aliviar muitas vezes, consolar sempre”.

No livro Medicina, Poder e Produção Intelectual, a professora Patrícia

Maria Portela Nunes, neta do ilustre médico maranhense, matemático,

humanista e intelectual Bacelar Portela, também aborda o tema,

descrevendo em certo trecho: “Não obstante, não se pode tomar a

competência médica como uma competência técnica, unicamente. A

medicina também é uma arte: a arte da cura”.

O Acad. Ora empossado Domingos da Silva Costa, o decano da

cirurgia do Maranhão, notabilizou-se por sua competência técnica e

habilidade cirúrgica, a par de sua dedicação ao ensino dos

estudantes de medicina, fato que o conduziu à respeitabilidade dos

seus pares, das classe médica, dos seus alunos e da sociedade

maranhense.

Seja bem-vindo a Academia Maranhense de Medicina, Acad.

Domingos da Silva Costa, razão pela qual a Academia Maranhense

de Medicina, sente-se muito orgulhosa em acolhê-lo entre nós, pois

a enriquece muito.

Seja bem-vindo Acad. Domingos da Silva Costa à nossa Confraria!

Muito Obrigado !

 
 
 

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