José da Silva Maia
Cadeira Nº 23
JOS É DA SILVA MAIA nasceu numa meia - mo- rada, à calçada da Praia dos Barqueiros, em Alcântara
- MA, em 26 de fevereiro de 1811. Seu pai, José da Silva Maia, “inteligente e abastado lavrador” era casado com Dona Mariana Fraga da Silva Maia, senhora de excelen- tes qualidades e bastante prendada para aqueles tempos.
O pai, ao falecer, prematuramente, em 1820, teve o cui- dado de deixar-lhe um patrimônio para a sua educação. Em virtude dessa “verba testamentária”, segundo César Marques, seu contemporâneo e notável historiador, foi enviado à França, com a tenra idade de 10 anos. Em 1830, matriculou-se na famosa Faculdade de Medicina de Paris. “Foi-lhe fácil conquistar, em pouco tempo, lu- gar proeminente entre os inúmeros colegas, bem como a consideração e apreço de seus sábios professores.
Entre os escritos que deixou nos tempos de acadêmico, encontram-se ainda hoje, muitas notas de diagnóstico de moléstia e receitas a elas apropriadas, e tornou-se inter- no de vários hospitais de Paris, o que denota a sua apli- cação e amor à ciência que estudava.
“Mas, se por um lado tal aplicação granjeava-lhe a esti- ma e o respeito de todos os conhecidos, diz um dos seus biógrafos, por outro lado tornava-se prejudicial e quase funesta, pois enfraquecia de saúde, causando-lhes em consequência uma terrível afecção pulmonar, e desen- ganado pelos melhores médicos do hospital, teve que retirar-se”. Restabelecido enfim da terrível doença, con- tinuou com o mesmo afinco e denodo os seus estudos, cada vez mais deslumbrando a todos pelo brilho de seu riquíssimo talento. Façanha realizada em época flores- cente da cultura médica francesa, quando ditava a Medi- cina para o resto do mundo.
Defendeu tese de doutorado em 27 de abril de 1838, so- bre: Questões sobre diversas áreas das ciências médi- cas; O seu diploma está datado de 18 de maio de 1838.
Mal se forma retorna à sua terra natal, aqui chegando em 3 de outubro de 1838, aos 27 anos de idade.
Dr. José da Silva Maia foi um dos gênios nascido nesta terra fecunda de homens notáveis. Se tivesse voltado para a França, como a princípio quis decepcionado com as limitações do ambiente provinciano teria cer- tamente se alçado à altura dos grandes médicos euro- peus do seu tempo. Aqui ficando, contudo, seduzido pela irresistível vocação política, soube ser inexeqüí- vel, até os nossos dias, no conjunto biotipológico de sua gigantesca personalidade.
Poucos tiveram tanta inteligência, raros conseguiram acumular tanta cultura geral e especializada, diminu- tos tiveram como ele caráter inquebrantável, sempre voltado para o bem-estar do Maranhão, raríssimos possuíam tal bondade de coração, que aliada a grande eficiência profissional, fazia de cada concidadão um usufrutuário de sua caridade. Quando a febre amarela devastava todas as Províncias do Império e ameaçava invadir a nossa, fui a primeira sentinela avançada, co- locada na vanguarda para impedir a entrada do mal e livrar os meus concidadãos dos efeitos do terrível fla- gelo, caso ele penetrasse, iludindo a minha vigilância.
Dr. José da Silva Maia, cedo revelou irresistível ten- dência para a política. ”Raramente”, diz Jerônimo de Viveiros, duas profissões conjugaram-se tão bem na personalidade de um homem, como a Medicina e a Política, na figura de Silva Maia. A fama do médico ajudava o prestígio político; o fanatismo do correli- gionário colaborava com o cliente na criação das len- das em torno do clínico. Foi dessas figuras que saiu esse tipo invulgar de médico que fazia milagres, e de chefe político, que de véspera, sabia por quanto ga- nhava ou perdia o pleito (Jerônimo de Viveiros, em Quadros da Vida Maranhense, Imparcial, 1955). Além de médico muito famoso, foi político influente. O seu governo, posto que rápido deixou pegadas indeléveis, por- que progressista, honesto e corajoso; Foi provedor da Santa Casa da Misericórdia onde prestou serviços inovadores; Era o homem que conhecia e curava todos os males.
A figura extraordinária do médico se completa com as lendas e fatos que a tradição guardou, através da boca do povo que o adorava. A maioria das lendas em torno do Dr. José da Silva Maia focaliza de preferência o seu fa- moso olho clínico, a habilidade com que fazia o diagnós- tico, na verdade, o grande segredo da Medicina. Revela ainda que a política jamais o ofuscou, como de costume, a vigorosa e brilhante personalidade do médico.
José da Silva Maia, foi também um administrador efi- ciente, metódico, enérgico, preferindo na maioria das vezes, fiscalizar pessoalmente os serviços. Silva Maia residia na Rua da Paz nº 13, na mesma casa onde Hum- berto de Campos passou os melhores momentos de sua adolescência. Silva Maia não era casado. Desconhece-se o nome de sua mulher. Teve com ela quatro filhos: Tho- maz, Clara, Maria da Glória e Ana Amélia. Dr. José da Silva Maia faleceu em São Luís, às 16 horas do dia 24 de abril de 1893, aos 82 anos, paupérrimo, deixando à sua família apenas o nome honrado, glorioso, e 55 anos dedicados à clínica em grande parte empregada desinte- ressadamente.
A Academia Maranhense de Medicina, com louvor, presta homenagem honrosa ao Dr. José da Silva Maia, designando - o patrono da cadeira 23, que tenho a felicidade de merecê-la, ocupá-la, trazendo-me um sorvedou- ro, porém gratificante responsabilidade para mantê-la inabalável em sua dignidade.
